Friday, February 3, 2012

Os tempos mudaram: do século XX ao XXI

Francis Fukyama, conhecido, entre outras coisas, pela tese do "fim da história" após a queda do muro de Berlim e o colapso dos regimes comunistas, escreve no New York Times Book Review um interessante texto sobre o historiador Tony Judt, a propósito da publicação recente de um diálogo entre ele e um outro historiador, onde Judt passa em revista a história do século XX, que em grande parte se confundiu com a sua própria história pessoal. O choque do marxismo com a liberdade ocidental, com o fascismo e o nazismo, as mudanças dramáticas da europa oriental nas ultimas décadas são passadas em revista. Judt morreu em 2010.
O final do texto de Fukyamo é inspirador, e diz muito sobre quão diferente é o mundo de hoje relativamente ao mundo de há poucas décadas atrás, já para não falar do resto do século. Eu conheci o choque dilacerante dos modelos civilizacionais do marxismo versus a social democracria e o liberalismo, fui educado no regime de Salazar, como criança ainda senti de perto o pós guerra e a descoberta da verdadeira dimensão do nazismo, lembro-me do fascinio do existencialismo frances, de Maio de 68 em Paris, vivi a revolução de Abril, vivi o primeiro movimento revolucionário que pela primeira vez derrotou uma tentativa de tomada de poder pelos marxistas (um momento de mudança em que muitas veêm o principio do fim do comunismo soviético) e vivi a construção de um Portugal democrático e de uma União Europeia que hoje em dia quase se confunde com a própria Europa. Recordo-me ainda do maoismo e dos ecos da revolução cultural chinesa. Só por sorte passei ao lado do serviço militar na guerra colonial (adiamento para acabar o curso - precisamente em 1974), recordo bem a invasão e a perda da Índia portuguesa e o inicio dos conflitos em Angola. Uma "legacy" muito diferente da dos meus alunos e dos meus filhos:
  • In the end, what is striking about this book is the great difference between the 20th-century world it describes and the present. Totalitarianism has disappeared, except in a few small countries like Cuba and North Korea; a risen Asia represents as much a cultural as an ideological challenge; religion has made a political comeback everywhere. The undergraduate students I teach were all born after the fall of the Berlin Wall; for them, the huge ideological battles among Communism, fascism and liberalism are neither meaningful nor interesting. They are fortunate not to live in a world where ideas could be translated into monstrous projects for the transformation of society, and where being an intellectual could often mean complicity in enormous crimes. Documenting this 20th century, then, is an important achievement of a scholar and intellectual whose premature passing we should all regret.
Os itálicos são meus. Um receio é obvio: as tentações totalitárias são eternas e podem voltar, seja com que capa for (e o fascismo teocrático não é uma miragem ...). A minha geração ainda conheceu o que isso pode significar. Os meus alunos atuais, e os meus filhos, não. Felizmente. Mas será bom que se lembrem disso. Porque a ambição de transformar a sociedade é eterna.

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